SÉRIE “FRAGMENTOS” DO PROJETO “(In)VISÍVEIS”
Os trabalhos artísticos aqui apresentados
compõem a Série “Fragmentos”, do Projeto (In)VISÍVEIS. Por intermédio da
poética do desenho, os trabalhos são construídos com folhas brancas, no
formato A3 (42cm de altura por 29,7cm de largura), em posições verticais ou
horizontais, que, ao serem postas uma do lado da outra, trazem a ideia de
fragmento, de partes invisibilizadas de um corpo de uma pessoa com
deficiência. Para suas composições, utilizou-se mina de grafite na cor
sanguínea. A cor sanguínea traz a ideia de carne humana, de seres humanos
que carregam em seus corpos as marcas de suas singularidades. Os desenhos
são construídos com um alto grau de realismo, utilizando a técnica do claro e
escuro para realçar as partes dos corpos.
Em toda e qualquer sociedade, o corpo sempre esteve preso no interior de poderes que lhe impõem limitações e proibições. Essa condição pode ser detectada em vários momentos da história da humanidade, mas, na modernidade e contemporaneidade, avolumaram se os aparatos de esquadrinhamento do corpo por intermédio de uma maquinaria de poderes que tem por objetivo desarticulá-lo e recompô-lo a partir de normas estabelecidas A partir dessa maquinaria, constrói-se uma compreensão binária da corporeidade humana: de um lado, os normais, os sadios, os belos, do outro, os anormais, os doentes, os feios. Esse binarismo edifica uma estrutura hierárquica de dominação cultural e ideológica de um grupo dominante sobre os demais.
Nessa série, busco desocultar os corpos nus das pessoas com deficiência que são relegados aos porões da invisibilidade Esse movimento é fruto de afetos, pois sinto, cotidianamente, o que é não possuir uma materialidade, um corpo que seja percebido e tencionado enquanto tal, pois, enquanto paraplégico, sei o que é ser visto como monstro, defeituoso, doente ou feio...
“O que vemos é o reflexo do mundo invisível pois julga-se no outro o que falta em si. Falamos de corpos modelos /corpos padrões e esquecemos do corpo matéria, realidade de um sujeito vivo e limitado, errante e único. A obra do artista Fabio Passos narra através de linhas o desejo adormecido no olhar do outro. Cicatrizes e deficiências, cortes, dores e resiliência fazem parte de seus desenhos que contornam para além da imagem plausível. Seus desenhos são traços e trajetórias, marcas e registro, são o espelho da alma”. (Camila Moreira – UFMG)